“A arte de resistir às palavras”

P. Como se poderá constituir uma oposição à imposição dos valores dominantes?
– Correndo o risco de o surpreender, responderei com uma citação de Francis Ponge: “É então que ensinar a arte de resistir às palavras se torna útil, a arte de não se dizer senão o que se quer dizer. Ensinar a cada um a arte de fundar a sua própria retórica é uma obra de salvação pública.” Resistir às palavras, não se dizer senão o que se quer dizer: falaar em vez de ser [i]falado[/i] por palavras de empréstimo, carregadas de sentido social […] ou falado por porta-vozes que são eles próprios falados. Resistir às palavras neutralizadas, eufemizadas, banalizadas, em suma a tudo o que faz a solenidade oca da nova retórica dos altos responsáveis administrativos, mas também às palavras gastas, repisadas, até ao silêncio, das moções, resoluções, plataformas ou programas. Toda a linguagem que é produto do compromisso com as censuras, interiores e exteriores, exerce um efeito de imposição, imposição de impensado que desencoraja o pensamento.”

p. 20
Entrevista com Pierre Bourdieu, “A arte de resistir às palavras”.
In: BOURDIEU, Pierre. [b]Questões de sociologia[/b]. Lisboa: Fim de Século Edições, 2003.

Uma arte que transcende? Ou arte que desairraga?

1 comentário

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Uma resposta para ““A arte de resistir às palavras”

  1. Nanan

    Loth, ocê voltou!

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