“A arte de resistir às palavras”

P. Como se poderá constituir uma oposição à imposição dos valores dominantes?
– Correndo o risco de o surpreender, responderei com uma citação de Francis Ponge: “É então que ensinar a arte de resistir às palavras se torna útil, a arte de não se dizer senão o que se quer dizer. Ensinar a cada um a arte de fundar a sua própria retórica é uma obra de salvação pública.” Resistir às palavras, não se dizer senão o que se quer dizer: falaar em vez de ser [i]falado[/i] por palavras de empréstimo, carregadas de sentido social […] ou falado por porta-vozes que são eles próprios falados. Resistir às palavras neutralizadas, eufemizadas, banalizadas, em suma a tudo o que faz a solenidade oca da nova retórica dos altos responsáveis administrativos, mas também às palavras gastas, repisadas, até ao silêncio, das moções, resoluções, plataformas ou programas. Toda a linguagem que é produto do compromisso com as censuras, interiores e exteriores, exerce um efeito de imposição, imposição de impensado que desencoraja o pensamento.”

p. 20
Entrevista com Pierre Bourdieu, “A arte de resistir às palavras”.
In: BOURDIEU, Pierre. [b]Questões de sociologia[/b]. Lisboa: Fim de Século Edições, 2003.

Uma arte que transcende? Ou arte que desairraga?

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Lothlórien vai às ruas!

A “primeira fase” Lothlórien representou o deslocamento para um mundo necessariamente mágico. Como não se fascinar com o exótico? Mudei o nome para Loos Lae porque foi um momento de readaptação, um lá e um cá, procurando um espaço pra pisar o pé, essas coisas…  Mas acho que está na hora de retomar Lothlórien e de tê-lo como um projeto. Algo que transborde e transcenda o blog.

Meu negócio é retomar o papel quando conveniente; e tem a vontade de tirar umas fotos também. E preciso praticar a escrita. Se Lothlórien foi a floresta mágica de Senhor dos Anéis; se, para mim, Lothlórien foi minha estadia além-mar, preciso encarar o desafio de rever Fortaleza.

Seguindo a linha de alguns posts daqui, meu desafio será encarar Fortaleza e buscar locais agradáveis. Dá para fazer isso?

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Atualízio

Cansei. Quero brincar de outra coisa.

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scrambled sketch

gedachte. language, you work no more. expression through, via, within, as means, the media, based upon, create within.

answer ain’t here to be found. out there somewhere it is, knowledge is cause i feel it. self needs to be taken aback, otherwise,

. i shall write letters // learn /NEW/language / practice it /.

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Amas tua cidade?

Pedacinho de Céu ou um buraco cheio de mazelas? Se é a primeira opção, a segunda ou mesmo um misto entre as duas, o que está em evidência é o seu possível amor por Fortaleza. Amá-la ou não amá-la? Eis aí a questão da vez.

Montagem que fiz em 2009.

Nos últimos anos, convivemos com ações de valorização do brasileiro – de um modo geral – e, também, de nossas cidades. Como se localidade e subjetividade devessem ser amigas e caminhar juntas. O incentivo ao audiovisual alencarino que mescla as paisagens urbanas com elementos inusitados, Prefeitura promete uma “Fortaleza bela”, a nova geração de contistas escreve sobre a cidade que maltrata mas afaga, coletivos de arte urbana florescem e modificam rincões com irreverência, bairros fervilham com suas práticas culturais locais, fanzines discutem a relação de seus autores com os deslocamentos que fazem, um centro cultural promove o Percursos Urbanos, movimentos sociais elaboram plataformas de demandas locais, um coletivo de jornalistas dialoga com usuários de terminais, ciclistas reivindicam as ruas, duas revistas se apropriam de nomes de bairros etc. E poderíamos seguir por mais algumas linhas, a citar as experiências de que temos notícia.

São processos de origem em pontos diversos da cidade, que não têm autoria de um grupo ou classe social apenas. E são iniciativas que muitas vezes se cruzam, dialogam e pretendem deixar claro que Fortaleza é grande. Em breve talvez possa-se desconsiderar as ideias de cidade-ilha e cidade-ovo. Muitas são as vozes que falam e põem em xeque a ideia já antiga mas sempre presente de um centro do legítimo discurso.

Elas propõem uma identificação não-automatizada com os espaços, que possibilite uma reconstrução de ti por meio de uma “subjetividade espacial”. Algo como Diz-me por onde andas (e não onde moras), que digo quem és. No dia a dia, quais percursos realizas? Amas tua cidade? Tens um lugar para chamar de teu?

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No meu canto,

a aguardar.

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Cidade como espaço de aprender?

Na aventura de tentar escrever monografia, reencontrei a inspiração inicial: o conceito do “bairro-escola”, desenvolvido pela Associação Cidade Escola Aprendiz na Vila Madalena, em São Paulo. Como explicita a página do projeto, o esforço a para a criação de…

um amplo espaço educativo, estruturado por uma rede que une toda a comunidade

[…] amplia as possibilidades de aprendizagem e melhora a qualidade de vida urbana. […]

Como estratégia, a Cidade Escola Aprendiz realiza projetos focados em arte, cultura, educação, comunicação, tecnologia e articulação comunitária.

[…] [A] relação da organização com bairro constitui um laboratório pedagógico há 12 anos.

Em suma,

O ideal de Bairro-Escola mobiliza estratégias que permitem a construção de uma rede de relações entre instituições, serviços e pessoas da comunidade, possibilitando a todos o aproveitamento de muitos lugares para aprender.

Trata-se de um esforço em transformar o território em uma comunidade de aprendizagem onde todos participam, podem aprender e ensinar.

O Bairro-Escola não é um modelo fechado, localista e desvinculado de políticas públicas nacionais, mas uma proposta de política educativa cuja realização depende fundamentalmente das condições econômicas, políticas, culturais e territoriais de cada lugar. É da trama tecida pelas especificidades locais com as políticas públicas que se dá o bairro-escola.

  • É possível saber sobre as últimas atividades da associação, como o espaço cultural sobre a Vila Madalena, uma participação na feira do bairro, entre outras.

O conceito de cidade educadora existe há pelo menos 12 anos, utilizado em cidades como Montevidéu, que foi tida como “cidade musical”, e Dourados (MS), no Brasil. O conceito de cidade-escola tem-se disseminado genericamente no Brasil pela Cidade Escola Aprendiz, mas o destaque fica para o bairro-escola, replicado para Nova Iguaçu (RJ), Campinas (SP), o Vigário Geral (RJ) e São Luis (MA), para citar alguns exemplos.

Porém é preciso ressaltar que as experiências citadas não são pioneiras e únicas. Há muitas experiências semelhantes, mas com suas especificidades, que tem-se dado em muitas partes do mundo, frequentemente com outros nomes.

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Adam Kuper e a tal “sociedade primitiva”

Falo muito de Antropologia, mas não quero enganar ninguém: não sei se quero isso da minha vida ou se tenho a “vocação” para tanto. Interesso-me; ponto. Por exemplo, no prefácio à edição brasileira de KUPER, Adam. A reinvenção da sociedade primitiva: transformações de um mito.

Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008 (na página 11) temos:

Sociedades primitivas – ou, ainda melhor, povos primitivos – são resultados da imaginação ocidental. Isso não implica que as noções de primitivo não têm nenhum propósito. Como nos mundos alternativos da ficção científica, as idéias sobre a sociedade primitiva nos ajudam a pensar a nossa própria sociedade. O primitivo, o bárbaro, o selvagem são os nossos “opostos”. Eles nos definem, enquanto nós os definimos.

Adam Kuper, 2008. Foto da página virtual da Brunel University.

Essa pancada é do antropólogo Adam Kuper (http://en.wikipedia.org/wiki/Adam_Kuper) a refletir sobre os trabalhos antropológicos que se dizem sobre as “sociedades primitivas”.

Satisfeitos com nós mesmos, desprezamos os primitivos por a eles faltarem as nossas vantagens. Se formos pessimistas, eles podem representar a esperança de um modo de viver melhor, mais livre, mais saudável e mais natural. Se formos céticos, podemos ecoar Montaigne, argumentando que nós mesmos não somos melhores que os primitivos. E se estivermos nos sentindo liberais, podemos até conceder que eles tenham alguma coisa a nos ensinar, talvez sobre o respeito ao meio ambiente!

Kuper discute a(s) ideia(s) que o ocidente construiu sobre o “primitivo”, sobre esses homens e mulheres estudados em regiões “distantes”, de modos de vida diferentes e que tiveram suas terras ocupadas por países europeus. Em 1988, ele escreveu A invenção da sociedade primitiva. A “Reinvenção (…)”, de 2005 [Brasil: 2008], é uma releitura. Na página 15 desta edição, no prefácio original, ele diz:

Este livro é uma história das formas pelas quais os antropólogos têm pensado sobre a sociedade primitiva. […]

Eu adicionei, portanto, uma breve história das palavras bárbaro, selvagem e primitivo, de forma a elucidar alguns dos temas recorrentes deste discurso.

Entre as páginas 15 e 16, ele complementa seu objetivo com o livro:

Da primeira vez cometi um outro erro, o de supor que a idéia de sociedade primitiva estava à beira da extinção. “Meu objetivo”, escrevi no parágrafo final de The Invention of Primitive Society, “foi liberar-nos de umpouco de nossa história. Os antropólogos desenvolveram a teoria da sociedade primitiva, mas nós devemos corrigí-la, quando não considerá-la obsoleta, em todas as suas formas múltiplas.” Foi uma esperança em vão. A sociedade primitiva está de volta. No que concerne à direita, a moral da história evolutiva torna-se indiscernível da doutina [sic] do pecado original. O velho Adão ainda está conosco. Em um dos mitos modernos mais potentes, O Senhor das Moscas, de William Golding, crianças de uma escola inglesa, náufragas, retrocedem à selvageria e reiventam[sic] liderança, caça, danças rituais e sacrifícios. Enquanto isso, para a esquerda, a sociedade primitiva se tornou um ideal político, ao menos para muitos ativistas ecologistas e da anti-globalização.

E ele termina o prefácio, na página 16, a justificar e dar a ideia fundamental:

O título do livro foi mudado de modo a refletir essas mudanças, e o subtítulo também foi alterado, pois agora eu sinto que a idéia de sociedade primitiva é melhor descrita como um mito.

E agora voltarei à leitura.

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Clifford Geertz:

“If we wanted home truths, we should have stayed at home.”

– excerpt of chapter Anti anti-relativism, page 276, in American Anthropologist, vol. 86, #2.

“Se quiséssemos verdades caseiras, devíamos ter ficado em casa.”

– trecho do capítulo Anti anti-relativismo de Nova luz sobre a antropologia (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001 [1983])

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Não vale da boca

Criei um mundo novo enquanto eu estava fora. Dei o nome de Lothlórien. Lothlórien na real não existe mais. Nasceu com data para terminar, embora eu tenha adiado um cadinho. Está cá dentro e está registrado em fotos, cadernetas, blog e memórias. Mas é hora de seguir adiante, porque parece que tou numa crossroad. A encruzilhada de determinações/ vontades/ escolhas. E que levam a caminhos.

Olhai as chananas da calçada – não temos lírios em Fortaleza, não temos campos. Temos o que temos – abracemos e sejamos a partir do que temos. Façamos diversidades, e tem matéria-prima por aí. Ir – não ir. Fazer – não fazer. Meu lugar é onde estou, e não aonde vou. E o importante é o que escolho pegar com as mãos.

Tudo está muito sobrestimado, overrated. “Quero pessoas inteligentes”, “não quero ser mais um”… Muita importância às coisas pequenas. Não falo de escolhas no sentido de dinheiro, carreira. O foco é o que está além das preocupações; é algo mais geral, como que o contexto, porque é isso que atrai outros elementos. É ele que dá o gênero e o grau; ele tem elementos embutidos, inerentes, e que passam despercebidos e vão adentrando. Modo de viver, modo de estar, exercer os sentidos.

Falemos menos dos outros; e eu gostaria que falássemos menos de nós mesmos para os outros, por isso que queria até desativar o RSS, mas não encontrei o dispositivo.

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